Já escrevi um post de como me sinto meio perdida em toda esta sociedade, mas com alguma dificuldade e muito jogo de cintura lá vou vivendo os meus dias, tentando manter-me o mais fiel a mim mesma, e assim não me perco de mim mesma.
Sim, o objectivo é não me perder de mim mesma, algo que acho que por alguma razão, lacuna psicológica ou mesmo traumas pós-guerra tenho verificado em parte, uma parte muito relevante da sociedade angolana.
Há um fenómeno recente que tem assustado a quem a ele está a prestar atenção, que está relacionado com o uso abusivo das redes sociais e das "novas tecnologias", que hoje está a disposição de maior parte da população, o que em parte se deve ao desenvolvimento tecnológico que permite a qualquer telefone de baixa gama ter acesso a internet e as digas app's das redes sociais.
Tem sido prática comum em Angola / Luanda, toda e qualquer desgraça, acontecimento, difamação e exposição da vida das pessoas ir parar as redes sociais através de partilha de fotos os vídeos.
Nos últimos meses tivemos acesso a vídeos privados com exposição sexual, tivemos acesso a agressões físicas, a conversas privadas, enfim uma série de situações de fórum pessoal e que por falta de respeito da privacidade alheia são partilhadas, para exposição de forma jocosa ou para denegrir a imagem dos envolvidos.
Tal como qualquer pessoa hoje em dia também faço parte das grandes redes sociais e acabo também por estar exposta a estas imagens / vídeos.
Mas por ter noção do limite das responsabilidades, dos meus deveres e direitos enquanto cidadã, tenho-me recusado a pactuar com a disseminação destes conteúdos. E quando abordo as pessoas que o fazem vejo o quanto há um desconhecimento das Leis existentes. A resposta comum é: "não fui eu que filmei/tirei a foto"; "não fui eu que comecei a partilha, só estou a reencaminhar"; "não conheço a pessoa só estou a partilhar porque pode ajudar".
E então eu pergunto, que direito tenho eu de partilhar algo que desconheço a origem? Que direito tenho eu de partilhar algo que desconheço a autenticidade? Que direito tenho eu de expor a vida de alguém?
Que doença é esta e que necessidade é esta de acabar por denegrir a imagem de uma outra pessoa inadvertidamente? Que sociedade doente é esta aonde estamos inseridos que acham normal, a ponto de partilhar actos sexuais privados?
O que hoje despoletou a minha ira, o meu repudio completo é o vídeo de uma pobre rapariga a ser agredida por amigas, devido a traição. E vimos uma agregação a acontecer, uma violência física, psicológica e alguém a filmar, a rir e por fim há a partilha do vídeo para meio mundo, sem respeito da privacidade alheia.
E por isto concluo que a nossa sociedade está doente, perdeu a decência, o decoro, perdeu os limites, falta lei, falta orientação mas acima de tudo falta respeito pelo outro e seus direitos.
E a tendência é piorar, pois se quem deveria adoptar uma atitude de repudia e condenação também o partilha no seu meio, como os outros também não o farão?
Volto a questionar, trauma de guerra? Crescimento exponencial da sociedade em tão pouco tempo sem um acompanhamento educacional e civil?
Onde vamos parar? Quando é que alguém vai se preocupar em travar este fenómeno tão nocivo?