sexta-feira, 13 de março de 2015

Regresso a Malanje - Parte III (Regresso a Luanda)

E chegamos ao terceiro dia desta aventura em Malanje, tudo cronometrado, tudo pensado para o nosso conforto e divertimento.

Tivemos direito, por ser dia da mulher, a um barbecue feito pelos homens do grupo. Mas o frio da noite de Kalandula fez-me fugir cedo para o quarto assim como o saber que teria no dia seguinte mais algumas horas no volante, logo um dia corrido.

E não é que foi? O programa para este dia não contemplava simplesmente o regresso a Luanda, mas antes uma paragem na barragem de Kapanda - o quê? - seguido de Pungo-a-Ndondo (Pungo Andongo), a bela fortaleza de pedras usadas no reino da Rainha Njinga.

Rumo a Kapanda, sem grandes expectativas, lá fomos nós, ao sair de Kalandula, a nossa base, uma pequena tristeza no coração, uma vontade de nos perdermos por lá e esquecer a realidade ... mas faz parte da vida, fica a lembrança, o momento lá vivido. Novos caminhos, novas paisagens, fomos até Cacuso e de lá fizemos o desvio para Kapanda. 

No meio do caminho ..... as Pedras Negras de Pungo Andongo apareceram no nosso horizonte. Sorrisos, palmas e saltos de alegria pela bela vista, mas ainda não era a hora delas, antes Kapanda! E finalmente chegamos.

Por ser uma barragem de importância estratégica, a entrada é completamente controlada, regras de segurança extremas. Tivemos uma breve explicação do projecto, do que era lá feito, de que um lado da barragem é Malanje e do outro Kwanza-Sul. E por curtos momentos fomos ao  Kwanza-Sul já que ao atravessar a parede da Barragem tínhamos de virar no outro extremo. 

Não vou estar aqui com palavreados, vou mostrar as belas imagens da Barragem... sem palavras.




Água fonte de vida!

Saímos dali maravilhados com a beleza do local, com a força da água e acima de tudo com o trabalho feito por angolanos para angolanos,

E Fomos para as nossas belas Pedras Negras de Pungo Andongo. Chegamos a vila, sempre na sua paz, tranquilidade e rumamos para a fortaleza, no seu acesso difícil e um pouco perigoso, já que sentia o carro a derrapar um pouco, graças as constantes chuvas e acesso difícil e sem tratamento do local. Mas como Malanje é feita de pessoas humildes e solidarias prontamente tivemos a ajuda de um local, bem-haja este homem que ajuda quem visita o belo local onde ele mora.










Sem palavras!

Não tivemos a oportunidade de concluir a visita, já que a chuva expulsou-nos. Se não fosse a chuva teríamos visitado o outro lado, onde corre um riacho e supostamente estão as pegadas da rainha Njinha e de seu pai - mentira digo-vos já, mas a beleza do local ganha qualquer mentira e vale mesmo a pena (re)visitar... lá terei de voltar a Malanje para matar as saudades ... não sei é quando ... 

Regressamos para Luanda numa tempestade horrível, com visibilidade reduzida, o que nos obrigou a reduzir a velocidade e a aumentar o tempo na estrada. Mas no final, tudo valeu a pena! Convido-vos a ir, quem nunca lá foi, e a voltar quem já lá esteve.

Se puder ... não sei daqui a quanto tempo, voltarei, se assim estiver nos desígnios do Senhor.

Ponto alto da viagem para mim: Quedas de Musseleji, sem qualquer dúvida!.

Até a próxima!

Regresso a Malanje - Parte II

Depois do primeiro dia longo e emocionante, chegamos a Kalandula num temporal. Mas com a sensação que a viagem iria ainda dar muito que falar.

No dia seguinte o dia não podia ter acordado mais lindo, mesmo depois da bela chuvada - nós como bons luandenses que somos não parávamos de comparar o estado da vila - intacta após a chuvada - o que contrasta claramente com qualquer bairro da bela, desorganizada cidade de Luanda.

Tivemos um pequeno almoço simples mas com direito a bombom frito (mandioca demolhada e depois frita em óleo muito quente - especialidade angolana) que me fez regressar a minha infância, a casa da minha avó. O bombom estava perfeitamente frito, sequinho e estaladiço como este deve ser. 

Após o pequeno - almoço foi-nos informado o roteiro que passava por visitar o lado Sul das quedas de Kalandula - as segundas maiores de África, que no tempo do colono se chamavam Quedas de Duque de Bragança. Depois seguiríamos para as Quedas de Musseleji, o que se seguiria o almoço e para terminar ver novamente as quedas de Kalandula do lado Norte e se possível descer. Era o plano...

Fomos assim para estrada, descendo em direcção a Malanje, até que ao meio do caminho viramos a esquerda e entramos em terra batida rumo ao Lado norte. Fomos parar a uma hospedaria abandonada, que me lembro de ter visto na primeira viagem, quando visitava o lado norte e de me ter questionado sobre o que seria. A vista pela hospedaria é simplesmente deslumbrante!

Deslumbrante já que vimos a Queda de frente, como um quadro lindo, pintado a cada segundo por Deus. Uma pintura inigualável.



Foi-nos dito que Kalandula significa em português "segue o branco", e foram os que os nativos disseram aos colonos quando os mesmos perguntaram o nome da localidade. Acredita-se que o branco que eles diziam para seguir não era a cor da pele dos colonos mas sim a cor branca das águas.

O clima em Malanje é quente, mas ali estava uma maravilha, já que a força da água a cair levava até nós uns pingos suaves e refrescantes. 

A hospedaria, um lugar abandonado, tem uma vista privilegiada. Quem se lembrar de reabilitar a mesma e aí erguer um empreendimento turístico terá muito a ganhar.

Saímos dali rumo a nossa segunda paragem - as Quedas de Musseleji. ansiosos e um tanto o quanto inibriados ainda por Kalandula seguimos emocionados estrada a fora. Desta subimos para a vila e viramos a esquerda ao sinal que indicava o Miradouro do lado Norte das Quedas de Kalandula.

Andamos no asfalto por alguns poucos quilómetros, até que voltamos a deixar o asfalto e metemo-nos por um caminho alagado, com grandes possas de água, numa estrada de terra batida que na maioria dos sítios impedia o cruzamento dos carros. Resumidamente entramos para o meio do nada, cruzando com alguns Kimbos pelo caminho.


  

Quando finalmente estacionamos o carro tivemos um breve período de decepção, pois o que vimos não parecia nada de extraordinário, depois de Kalandula e a pergunta de todos era: andamos isto tudo para isto? 

Esta era a vista do local onde deixamos os carros. Nada de especial, certo?


Mas decidimos descer, já que tínhamos ido até lá, porque não?

E foi isto que vimos, quando nos aproximamos!



A meu ver, apesar de gostar bastante desta foto, a imagem não transmite completamente a beleza do lugar, um sítio ímpar, com uma queda de água constante, sem pressa, com um som tranquilo. E a surpresa do dia... podíamos subir e tomar um banhinho refrescante na queda, um SPA natural em Malanje! E claro que subimos a correr e tomamos o banho.

Saímos de Musseleji sem vontade, a saber a pouco, para nós foi o ponto alto do dia. Um lugar perdido, mas capaz de transmitir tanta paz e felicidade. Digo que um dia gostaria de lá voltar, e voltar a molhar-me e refrescar a mente, a alma nas águas de Musseleji.

E de volta a Kalandula com uma paragem rápida para almoço e algum descanso... corremos para o lado Norte das Quedas de Kalandula, para podermos ver as Quedas de cima, caminhar nas pedras e ver a força do rio.

Da primeira vez que vi Kalandula deste lado tinha mais água entre as pedras, o que estranhei até porque está a chover bastante. Mas continua belo e lá a máquina fotográfica teve de trabalhar.




Lindo não é?



Quando estou nestes locais, de beleza ímpar, só consigo dizer como o meu país é belo!

E a força da água?


Quem nunca foi, deve ir, pois não há palavras para descrever a emoção sentida.

Kalandula e Musseleji marcaram este dia e para mim o ponto alto da viagem.

Malanje ou Malange vale a pena visitar, até porque pelo que sei há outras quedas por descobrir.

Até a próxima!

terça-feira, 10 de março de 2015

Regresso a Malange - Parte I

Já não me lembro quando foi a primeira vez que estive em Malanje, província ao norte de Angola, mas sei que quando cá estive adorei. Hoje após não sei quantos anos tive a oportunidade de voltar a Malanje com um grupo quase desconhecido para mim, quase porque de um total de 72 pessoas só conheço /conhecia mais outras 3. 

Hoje foi o primeiro dia, um dia intenso, numa viagem que começou às 4 da manhã, hora que liguei o meu carro para apanhar as pessoas que daria boleia. A paisagem durante a viagem foi sempre de cortar a respiração. .. um verde intenso, no meio de um planalto, vales e montes... um perfeito quadro pintado por Deus.

Neste primeiro dia a visita foi aos Rápidos do Kwanza....simplesmente de cortar a respiração. Mas esta viagem mexeu comigo em vários sentidos. Foi um puxar para a realidade,  não a minha realidade. .. sim até pode ser a minha realidade, mas a forma como a minha vida é abençoada comparativamente a vida de 95% dos Angolanos.

Mas não me deixou Feliz mas muito pensativa e um pouco impotente,  por assim dizer... vi crianças que cercaram-me por causa de comida. Apesar de estar com fome/vontade de comer preferi dar a minha comida ao meu amigo Joni (foi como ele disse se chamar). O Joni não deve ter mais de 10 anos, uma criança com um olhar meio, com vontade de descobrir o mundo,  com vontade de ajudar, mas claro também com vontade de "ganhar" algum. E assim o Joni colou-se a mim..como meu guia turístico, explicando um pouco sobre o mundo dele.

E as mulheres a lavarem no cimo do rio, antes da queda? Único.... é por estes momentos específicos que tenho orgulho em dizer que sou angolana.

Mas a saída foi um pouco triste... vi crianças a lutarem para poderem chegar a um pedaço de fruta, a uma sandes ... a uma salada. Vi um menino albino cheio de feridas e acredito que a começar a cegar... consequência da condição física e isto me partiu o coração. E perguntei a mim mesma o que  posso fazer para minimizar as condições físicas destas crianças... O quê? ?? Sinto-me impotente.

Não me esqueço dos olhos dos meus amigos de Cangandala...

No regresso tivemos a oportunidade de reflectir sobre a valentia destas populações que andam quilómetros a pé,  das suas casas para as lavras pela manhã e das lavras para casa. Uma salva de palmas para este povo vencedor, heróico e tão pouco valorizado. 

Nós os citadinos somos capazes de pegar no carro para percorrer 300 metros e a desculpa é o calor, a falta de passeio, a falta de b,  c e d!  Comodistas  é o que somos.


Também tivemos a oportunidade de ver uma família linda numa bicicleta: o filho mais velho a frente seguido do pai que pedalava,  a mãe e o bebé nas costas. Lindo, mais uma prova de como somos vencedores quando queremos.

Mas o retorno para a cidade magoou-me o coração ... e vi que cada vez mais o angolano esta a perder o amor pelo irmão /próximo.  Vimos um carro a albaroar uma mota com 3 elementos uma delas uma criança de no máximo 4 anos ... Os três foram parar ao chão, porque o carro estava a ultrapassar onde não devia ... e ele simplesmente não parou!

Só tive vontade de chorar mas tive de me controlar mas não parei de perguntar a mim mesma porquê?  O que se passa com Angola e os Angolanos? Onde vamos parar? Porque eles não têm um carro são menos que nós?  E já que fez isso porquê não parar para auxiliar? 

Foi mesmo um dia intenso que só acalmou com a chegada ao hotel as 20 horas ... ufa 16 horas...amanhã há mais ... mas contínuo com a pergunta: o que posso fazer para ajudar aquelas crianças?

P.S. são pouca as fotos pois fui ao volante.







Até a próxima!