Já não me lembro quando foi a primeira vez que estive em Malanje, província ao norte de Angola, mas sei que quando cá estive adorei. Hoje após não sei quantos anos tive a oportunidade de voltar a Malanje com um grupo quase desconhecido para mim, quase porque de um total de 72 pessoas só conheço /conhecia mais outras 3.
Hoje foi o primeiro dia, um dia intenso, numa viagem que começou às 4 da manhã, hora que liguei o meu carro para apanhar as pessoas que daria boleia. A paisagem durante a viagem foi sempre de cortar a respiração. .. um verde intenso, no meio de um planalto, vales e montes... um perfeito quadro pintado por Deus.
Neste primeiro dia a visita foi aos Rápidos do Kwanza....simplesmente de cortar a respiração. Mas esta viagem mexeu comigo em vários sentidos. Foi um puxar para a realidade, não a minha realidade. .. sim até pode ser a minha realidade, mas a forma como a minha vida é abençoada comparativamente a vida de 95% dos Angolanos.
Mas não me deixou Feliz mas muito pensativa e um pouco impotente, por assim dizer... vi crianças que cercaram-me por causa de comida. Apesar de estar com fome/vontade de comer preferi dar a minha comida ao meu amigo Joni (foi como ele disse se chamar). O Joni não deve ter mais de 10 anos, uma criança com um olhar meio, com vontade de descobrir o mundo, com vontade de ajudar, mas claro também com vontade de "ganhar" algum. E assim o Joni colou-se a mim..como meu guia turístico, explicando um pouco sobre o mundo dele.
E as mulheres a lavarem no cimo do rio, antes da queda? Único.... é por estes momentos específicos que tenho orgulho em dizer que sou angolana.
Mas a saída foi um pouco triste... vi crianças a lutarem para poderem chegar a um pedaço de fruta, a uma sandes ... a uma salada. Vi um menino albino cheio de feridas e acredito que a começar a cegar... consequência da condição física e isto me partiu o coração. E perguntei a mim mesma o que posso fazer para minimizar as condições físicas destas crianças... O quê? ?? Sinto-me impotente.
Não me esqueço dos olhos dos meus amigos de Cangandala...
No regresso tivemos a oportunidade de reflectir sobre a valentia destas populações que andam quilómetros a pé, das suas casas para as lavras pela manhã e das lavras para casa. Uma salva de palmas para este povo vencedor, heróico e tão pouco valorizado.
Nós os citadinos somos capazes de pegar no carro para percorrer 300 metros e a desculpa é o calor, a falta de passeio, a falta de b, c e d! Comodistas é o que somos.
Também tivemos a oportunidade de ver uma família linda numa bicicleta: o filho mais velho a frente seguido do pai que pedalava, a mãe e o bebé nas costas. Lindo, mais uma prova de como somos vencedores quando queremos.
Mas o retorno para a cidade magoou-me o coração ... e vi que cada vez mais o angolano esta a perder o amor pelo irmão /próximo. Vimos um carro a albaroar uma mota com 3 elementos uma delas uma criança de no máximo 4 anos ... Os três foram parar ao chão, porque o carro estava a ultrapassar onde não devia ... e ele simplesmente não parou!
Só tive vontade de chorar mas tive de me controlar mas não parei de perguntar a mim mesma porquê? O que se passa com Angola e os Angolanos? Onde vamos parar? Porque eles não têm um carro são menos que nós? E já que fez isso porquê não parar para auxiliar?
Foi mesmo um dia intenso que só acalmou com a chegada ao hotel as 20 horas ... ufa 16 horas...amanhã há mais ... mas contínuo com a pergunta: o que posso fazer para ajudar aquelas crianças?
P.S. são pouca as fotos pois fui ao volante.
Até a próxima!
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