quarta-feira, 6 de maio de 2015

Angola - o que dizem os números sobre Angola?

Nos últimos dias tenho acompanhado várias reportagens em que falam do posicionamento de Angola em vários estudos, desde o índice de felicidade, índice de progresso social e agora, o relatório que me espicaçou a fazer este post, o ranking dos melhores países para se ser mãe e lógico os piores.

Normalmente o posicionamento de Angola não me tem surpreendido, apesar de claro, ficar com aquela mágoa no coração, pois já depositei tanta esperança neste país, que me sinto um pouco frustrada mas principalmente incapacitada/impotente.


O primeiro relatório que mexeu comigo, que me fez colocar o "tico e o teco" a funcionar confesso foi o da Lista dos 25 Países mais INFELIZES do mundo (as letras maiúsculas na palavra infelizes é para dar o devido ênfase a tristeza que senti ao ler a reportagem). Poderá consultar o artigo aqui.

Quando li o título da reportagem e o resumo que dizia que o meu país, o país que me viu nascer, onde passei a minha infância, o país onde vivo (e sobrevivo) constava na lista dos países mais infelizes do mundo. Claramente entrei no estado de choque e de negação momentânea. Mas no segundo momento reflecti sobre a realidade dos angolanos, não a minha realidade até porque apesar dos pesares sou uma privilegiada neste país. Mas sim,  da lista dos 25 países, não somos os mais infelizes seja verdade, mas somos o 22ª países da lista dos ditos infelizes.

A minha questão é como não ser infeliz? Vivemos preocupados com a água, luz, saúde, insegurança, corrupção latente e a todos os níveis da sociedade, crianças na rua sem ter o que comer, engarrafamentos constantes, educação precária, preços exagerados, falta de habitação a preços condignos, ser que as crianças do nosso país estão sem futuro... Como é possível ser feliz assim? Num país onde a vida humana deixou de ter significado, que matam na esquina pela porcaria de um telemóvel? Se a polícia e governantes fazem e desfazem? Onde não há lei? Onde nem os mortos são respeitados? Sim, não há realmente felicidade, há um aceitar pacífico e impotente da realidade, pois depois de anos de guerra a população está farta, mas sofre quem não anda com os 500 seguranças a volta.

Para além deste relatório, podemos encontrar um outro relatório associado a questão da felicidade (ou infelicidade) e verificamos que Angola numa lista de 158 países ocupa gloriosamente a 137º posição de país mais feliz do mundo (ou seja um dos mais infelizes). Abaixo o excerto do gráfico e as razões que levam a esta conclusão. O relatório poderá ser consultado aqui.


Agora já entendo porquê que já não sinto a mesma felicidade que sentia a muitos anos atrás ... e volto a dizer, considero-me uma sortuda pois não padeço nem metade da carência do meu povo - Amém!

O segundo relatório foi partilhado por uma amiga, e fala sobre o progresso social dos últimos anos, isto é, quais os países que mais evoluíram a nível social. Este relatório procurou olhar para temas como as necessidades básicas (saúde, alimentação, água), bem estar social (acesso a educação, acesso a tecnologia básica, sustentabilidade) e oportunidades (emprego, liberdade de expressão, tolerância política, religiosa). Nem irei falar sobre cada item em separado, já que cada um dos tópicos tem muito pano para manga e muita lamentação.



Ao olhar para o relatório e com tristeza pude verificar que claro que não estávamos no Top 10, não estamos no meio da tabela mais sim entre os 10 últimos, abaixo a tabela dos top 10 e do bottom 10, que poderá servir de comparação... o relatório usado como fonte está aqui

Top 10



Bottom 10


Se repararem na imagem abaixo, do lado direito há uma linha tracejada, esta representa a média expectável. E se olharmos para a posição de Angola nós estamos completamente abaixo da média do que seria expectável quanto ao progresso social de um país.

As cores de cada ponto representa:

Preto - é o índice do progresso social;
Azul - Representa a posição quanto ao acesso as necessidades básicas;
Laranja - Bem estar social
Verde - Oportunidades


Relacionando este índice com o da felicidade  - ou melhor infelicidade - não há como não concordar que face a estes factos vivemos num país deveras infeliz. 

Se olharmos com um filtro e basearmos-nos em Luanda, claro que as discrepâncias não são tão visíveis , até porque tudo é feito para "esconder" a realidade. Mas quando vamos estrada a fora, e vimos como é feita a distribuição da riqueza pelo país.... não vamos entrar por aí, porque é simplesmente algo que não existe.

Por fim e como disse o que despoletou em mim a necessidade de escrever sobre o assunto foi o relatório dos melhores países para se ser mãe ou melhor, ser criança.

Contextualizando, ser mãe é um dos meus maiores desejos, as crianças são a minha paixão - se as vejo sofrer acabo por sofrer com elas, e se pudesse protegeria a todas deste mundo tão cruel, e de países onde ser criança é tão mal, tão triste ... Assim sendo, procurei saber, lógico, em que posição se encontrava Angola, até porque são mais as histórias (de terror) relacionadas ao parto do que de sucesso.

Abaixo o ranking completo, em que Angola, vá lá não se encontra nos 10 piores,mas numa lista de 179 países ocupa a posição 120.




Quem estiver interessado no relatório poderá lê-lo aqui.

Resumidamente este relatório baseou a sua análise em pontos tais como:

1. Sobrevivência da criança;
2. Desigualdades para os pobres que vivem na cidade;
3. Igualdade de oportunidade - ou a falta de oportunidades;
4. Acesso a saúde básica;
5. A vida em Favelas;
6. As desigualdades existentes nos países ricos.

A semana passada estive em Mbanza Congo (farei um post sobre esta viagem, prometo) e no dia do regresso encontrei um grupo de crianças que curiosamente olhavam para mim, parada no meio da rua com a minha máquina fotográfica. Tentei fotografá-las mas por medo, vergonha ou algo assim a maioria delas fugiu tendo ficado uma delas a quem fotografei e depois mostrei-lhe a foto. 

Ao voltar para o carro e raciocinar sobre aquela criança triste concluí que a mesma vive presa num ciclo vicioso, sem qualquer oportunidade. Se é feliz? Quem sabe o seja, porque a mesma não tem noção do mundo de oportunidades que tem longe daquele ciclo vicioso. Até quando vai durar a sua felicidade? Até quando vai durar a sua ignorância para a falta do mínimo necessário para ter uma vida condigna?

E como ela está mais de 90% das crianças de Angola, a viverem numa ilusão de felicidade, mas sem um futuro, sem uma oportunidade, correndo o risco de estar grávida aos 15 anos, ter de deixar de sonhar e enfrentar a realidade, onde falta as três refeições mínimas diárias, onde falta um hospital, uma escola, uma casa que não entre água quando chove ... é revoltante, é frustrante, é desesperante olhar para uma criança e não ver esperança no amanhã.

Posso ser considerada uma pessimista, devo ser, mas não acredito numa Angola melhor para a sua população, uma Angola em que o crescimento económico também signifique um crescimento humano e sustentável. Não uma Angola sem moralidade, sem respeito pelos cidadãos, sem sonhos ...

Fui criança e sonhei, fui feliz e sorri mas tive deste a boneca comprada aos brinquedos feitos por nós crianças ... mas hoje, olho para estas crianças e não as vejo a ser criança, não vejo um sorriso genuíno, não vejo a inocência delas.

Dos três relatórios (bastante recentes) nenhum deles foi abordado pelos media em Angola, porque continuamos a tentar vender as populações um país que não existe!

Para quem quiser saber mais de Angola em números, a CIA tem uma página na internet que disponibiliza dados de vários países, estabelecendo algumas comparações e se entrarem para a página de Angola poderão ter acesso aos mesmos nesta página.

Foi um post longo, um pouco emotivo, mas procurei resumir um pouco de cada relatório. Mas vá até as páginas (os links estão ao longo do post) e leia o que se fala de Angola... e juntos podemos levar o nosso governo a fazer mais por nós, porque nós merecemos, por uma Angola (muito) melhor.

Até a próxima...

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