Sou mulher e assumo-me como feminista, não que ser mulher seja uma condição intrínseca para o feminismo. Até porque faço parte de uma sociedade que o comum é as mulheres criticarem as mulheres, como eu, que assumem-se como feministas.
Na sociedade em que vivo é esperado que as mulheres sejam submissas e se subjuguem aos homens desde aos pais aos maridos. É esperado que a mulher não responda, não pense e faça tal e qual o homem que a "comanda" decida o que é melhor para si. São desde muito novas ensinadas que ser independente e ambiciosas vai leva-las para um caminho de perdição e que provavelmente vão acabar sozinhas e desgraçadas.
Sou feminista, porque a minha mãe ensinou-me a ser. Porque, um dia ela foi uma mulher "machista" mas que queria voar, que queria ser feliz. Se hoje a minha mãe é uma feminista? Não diria tanto, mas pelo menos foi capaz de me ensinar a ser. Desde muito nova ensinou-me a ser independente, ambiciosa, a querer conquistar o mundo e a não aceitar a célebre frase "não podes fazer isso porque não é coisa de menina". E por isso hoje digo, obrigada mãe, pois graças a ti, posso dizer que sou uma feminista e sou feliz.
Mas vamos lá recuar um pouco ... o que é o feminismo? O que é ser feminista? Antes de dizer o que penso sobre isso, fui consultar o dicionário para ver o que dizia e a definição que encontrei foram estas:
Feminismo: movimento ideológico que preconiza a ampliação legal dos direitos civis e políticos da mulher ou a igualdade dos direitos dela aos do homem. (Poderá consultar o dicionário da Porto Editora aqui).
Já a Wikipédia define feminismo como um conjunto de movimentos políticos, sociais, ideologias e filosofias que tem como objetivo comum: direitos iguais e uma vivência humana por meio do empoderamento feminino e da libertação de padrões opressores patriarcais, baseados em normas de género. Envolve diversos movimentos, teorias e filosofias que advogam pela igualdade entre homens e mulheres, além de promover os direitos das mulheres e seus interesses.(Poderá encontrar o texto na íntegra aqui).
O que penso sobre o ser feminista vai de encontro com as definições acima expostas. É basicamente a capacidade de respeitarem a mulher como um ser igual aos homens, com as mesmas capacidades de pensamento de acção, e para tal que a mulher não seja descriminada por ser mulher. Não estou aqui a falar da questão de força, porque sim, a partida, mas não como regra, a mulher é mais "frágil" fisicamente que o homem.
Estou a falar na capacidade de pensar por si, de criar, de agir. Sim devemos ter os mesmos direitos e os mesmos deveres que os homens numa sociedade. Podemos ocupar lugares de destaque nas empresas, nos partidos políticos, nos estados governativos, enfim na sociedade. E não, isso não nos faz menos mulheres, pelo contrário, faz-nos ainda mais mulheres.
Mas.... e isto para mim é um grande MAS! Mas o facto de ser a favor do empoderamento feminino (usando o Wikipédia) não quero com isso dizer que concordo que só porque se é mulher devamos ocupar cargos de destaque, independente das competências e capacidades para assumirem estes cargos.
Se concordo com as quotas mínimas impostas por certos governos como definir a % de mulheres estudantes nas universidades, dirigentes políticos ou % de gestoras que devam ocupar determinados lugares nas empresas?... Não, não concordo. Calma ... vou explicar.
Acho que as pessoas devam ocupar os cargos/lugares por competência e não por serem mulheres. Assim, sou a favor da igualdade das regras, que sejam dadas as mesmas condições a homens e mulheres para que disputem uma posição e ... que ganhe o melhor, independente do sexo. O melhor deverá ser aquele com mais capacidade, o que tem mais condições de exercer com brilhantismo a actividade.
E não me venham com tretas de dizerem ... vamos nomear uma mulher porque fica bem. Mas o mesmo em relação aos homens, não me venham com tretas de "é melhor ser um homem a ocupar esta posição porque é algo muito exigente". Ocupa o melhor, e o melhor nada tem a ver com o sexo.
Isto tudo veio-me a cabeça por causa da eleição do novo Secretário Geral das Nações Unidas. Desta vez a ONU decidiu ter um processo de eleição mais claro e mais público, em que tivemos a possibilidade de acompanhar os debates, entrevistas e as votações. Mas mostrou também um lado de um feminismo "sujo", em que só porque ficava bem e para querer passar uma ideia de evolução, muitos defendiam a eleição de UMA secretária geral, logo se é uma deveria ser uma mulher, lógico (?)... fica para um outro post ahahhah...coisas do mundo moderno.
Confesso que desde o início quando soube que o António Guterres se candidatava fiquei feliz. Primeiro por ser português, confesso. Segundo por falar português, seria (agora uma certeza, será!) o primeiro Secretário Geral da ONU a ter o português como língua materna e em terceiro pelo bom trabalho que o mesmo fez enquanto Alto Comissário das Nações Unidas para os Refugiados. Logo, o mesmo já tem bagagem do que é a ONU.
Então não entendi porquê que insistiam em querer uma Mulher para o cargo, só por ser uma MULHER! Mesmo que as mesmas tivessem menos competências demonstradas. E entristeceu-me ver uma Mulher que respeito, por ser um AS num mundo tão machista como a Angela Merkel apoiar Kristalina Georgieva só porque era uma mulher e tendo esta sido introduzida no meio do processo porque a aposta inicial em Irina Bukova mostrava-se um falhanço.
Como mulher defendo, e volto a dizer, as mulheres têm os mesmos direitos e deveres, capacidades e competências nas sociedades. Mas, não quer dizer que só porque são mulheres, e porque fica bem, deverão ocupar posições de destaque ou estratégicas, por isso...pelo simples facto de serem mulheres.
Quanto as sociedades, apesar do movimento feminista ter tido início na década de 60, ainda verificamos que há muito a fazer... a prova é o meu dia a dia, que convivo com mulheres, que já saíram de casa, que trabalham, estudaram mas que ainda mantêm um pensamento bastante "machista" e que condenam vivamente as mulheres feministas. Vamos educar as crianças - meninos e meninas - a serem feministas, porque ser feminista é lutar pela igualdade de direitos do ser humano, independente do género. E por arrasto, vamos abolir e pregar a igualdade da raça também ... porque não?
Termino deixando as palavras de uma grande feminista dos nossos tempos, Chimamanda Ngozi:
"We teach girls to shrink themselves
To make themselves smaller
We say to girls,
"You can have ambition
But not too much
You should aim to be successful
But not too successful
Otherwise you will threaten the man."
Because I am female
I am expected to aspire to marriage
I am expected to make my life choices
Always keeping in mind that
Marriage is the most important
Now marriage can be a source of
Joy and love and mutual support
But why do we teach girls to aspire to marriage
And we don't teach boys the same?
We raise girls to see each other as competitors
Not for jobs or for accomplishments
Which I think can be a good thing
But for the attention of men
We teach girls that they cannot be sexual beings
In the way that boys are
Feminist: the person who believes in the social
Political, and economic equality of the sexes"
To make themselves smaller
We say to girls,
"You can have ambition
But not too much
You should aim to be successful
But not too successful
Otherwise you will threaten the man."
Because I am female
I am expected to aspire to marriage
I am expected to make my life choices
Always keeping in mind that
Marriage is the most important
Now marriage can be a source of
Joy and love and mutual support
But why do we teach girls to aspire to marriage
And we don't teach boys the same?
We raise girls to see each other as competitors
Not for jobs or for accomplishments
Which I think can be a good thing
But for the attention of men
We teach girls that they cannot be sexual beings
In the way that boys are
Feminist: the person who believes in the social
Political, and economic equality of the sexes"
Seja feminista, mas quanto baste!
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