Sim fui ao Uíge! E estava ansiosa para vos contar. Foi simplesmente divinal.
Em Março deste ano tive o prazer de me meter na estrada com o grupo de amigos e rumar para o norte do País, para a famosa terra do bago vermelho, assim conhecida porque no passado foi um dos maiores produtores de cafés do mundo. Confesso que estava ansiosa e posso dizer que apesar de ter ido sem qualquer expectativa, saí de lá completamente apaixonada.
Saímos de Luanda e optamos por seguir pelo caminho mais rápido mas também mais perigoso, diga-se de passagem. Confesso que não o sabia, pois só depois de falar com a minha mais velha é que soube que o dito caminho tão belo, era odiado e metia medo até aos exímios motoristas.
O objectivo era proporcionarmos um agradável passeio por este caminho conhecido pelas suas curvas e contracurvas que marcam a serra. Assim lá saímos por Caxito - que continua parada no tempo, com uma rua principal que por sinal é a única que está asfaltada e onde se situam as principais repartições do estado e as agências bancárias. Custa crer que falamos de uma capital de uma província. Seguimos de seguida pelo Úcua, passando pelo Piri, Mobil e por fim Quitexe antes de chegarmos a bela cidade do Uíge.
A nossa primeira paragem para esticar as pernas foi logo após a passagem da ponte sobre um Rio que confesso que agora não me recordo do Nome, e por ter um posto policial fomos impedidos de tirar certas fotos. O curioso neste local é que apesar de estarmos junto a um posto policial não tínhamos qualquer sinal nos telemóveis, sem dúvida estávamos numa Angola Profunda!
Tivemos a oportunidade de neste local verificar a existência da ruína de uma ponte antiga, caída. Recordações de um passado não muito longínquo, de um país que esteve em guerra civil.
Voltando para os carros, lá seguimos desta já para a famosa Lagoa do Feitiço. Um nome bastante sugestivo e com uma estória por trás. Reza a história que no passado uns portugueses a darem com a Lagoa decidiram tomar banho nas suas águas, mesmo tendo sido avisados que deveriam pedir autorização ao Soba para tal, os mesmos desdenharam. E assim mergulharam e até hoje.... ninguém sabe dos mesmos. Assim se passou a palavra que para tomar banho naquelas águas ou se é nativo ou se pede autorização ao Soba.
Por estamos numa região em que a tradição é levada muito a sério e sem querer desrespeitar a tradição, os nossos organizadores foram até a aldeia pedir a autorização ao Soba ("rei" na cultura angolana)para podermos aproximar-nos da água da Lagoa.
Uma lagoa que está perdida no meio do nada, sem qualquer sinalização, bastante usada pela população local. Os nativos atravessam-na de um lado ao outro a nado, pois assim saem de uma aldeia para outra sem terem de percorrer uma grande distância. Impressionante! Nós só tivemos coragem de molhar os pés... Citadinos medricas ahahha.
Seguimos viagem e só paramos quando entramos na cidade do Uíge. O que chamou logo a atenção foi a limpeza da cidade, a organização. Notório a degradação e falta de um investimento real na cidade, todavia sem deixar que isso tirasse a sua beleza. E consegue-se ver que foi uma grande e bela cidade.
Outro aspecto que confesso que me chamou muita atenção é o facto de a população ser muito bem falante. Por exemplo a população de Luanda - não sei se deve-se a mescla de pessoas de várias províncias - tem uma pronúncia muito forte e um falar meio a cantar. Já no Uíge achei que os mesmos têm uma pronúncia bastante clara e limpa.
A simpatia e o querer servir bem, um serviço modesto mas agradável. Foi o que encontramos no nosso Hotel. Tão agradável que o Gerente do Hotel nos ofereceu o mini-bus do Hotel para nos levar a uma cachoeira que existia, segundo ele a alguns minutos perto do Hotel. Ahahah em Angola quando estiver numa província e lhe disserem que é já ali o sitio que quer ir... desconfie, pois não é assim tão perto. Andamos durante 30 minutos por uma estrada em condições aceitáveis, com um verde muito forte tanto de um lado como de outro. Chovia, mas uma chuva miúda que não atrapalhava a visão.
Lá chegamos a "entrada" para as cachoeiras e aí tivemos de seguir a pé, por uma trilha escorregadia. Tivemos de cruzar um pequeno riacho. Tínhamos a opção de atravessar por um tronco ou directamente no rio. Optamos todos por pisar no rio, ninguém arriscou o tronco ahahha, mas fomos gozados por esta opção. E lá chegamos a esta bela cachoeira tão perdida no meio do nada e tão deliciosa.
cachoeira da Quimini
Ficamos lá até que as trovoadas e a noite começaram a tomar conta do dia. E rumamos de volta para o Hotel. Podemos constatar que aqui no Uíge escurece mais cedo que em Luanda.
No dia seguinte tínhamos na agenda ir visitar as Grutas do Nzenzo. Parecia um programa simples para um dia inteiro. Ah santa inocência. Para irmos para as Grutas tivemos de voltar para Quitexe que está a 30 Km da cidade do Uíge. Aí, viramos a direita em sentido ao município de Ambuíla, que está a 60 Km de distância daquele ponto.
Os 60 Km até Ambuíla foram feitos em quase três horas! Sim eu disse três horas, tudo porque o acesso está em péssimo estado. Não tem asfalto e o terreno com as chuvas criou ravinas o que torna a condução complicada e lenta. Entramos em Ambuíla e vimos a destruição ou a ausência de tudo! Mas não paramos por aí, afinal ainda tínhamos de continuar.
Fomos passando por aldeias, super organizadas, super limpas até que chegamos ao nosso destino. Fomos super bem recebidos. Mais uma vez fomos pedir autorização ao Soba para visitar as grutas.
Autorização dada, rumamos a pé até a entrada da gruta, num cortejo em que as crianças, alguns jovens, um senhor idoso que coxeava e o Soba nos guiaram. Haja recepção tão calorosa.
No portão improvisado feito com troncos tivemos a oportunidade de presenciar um ritual fantástico, em que o Soba em Kikongo - língua nacional falada nesta região - pediu autorização aos espíritos para nos deixar entrar em segurança e acima de tudo que nos deixassem sair em segurança. Disse também que éramos todos Angolanos que tínhamos feito uma grande viagem de Luanda para o Uíge com o objectivo de conhecer a província e assim o Soba pediu também a nossa protecção no regresso a casa. Confesso que fiquei arrepiada com o ritual, tão tradicional e tão emotivo.
Lá entramos pelo trilho que nos levou a Gruta do Nzenzo, considerada uma das Sete Maravilhas Naturais de Angola, imponente, linda com a sua pedra torneira sempre a escorrer, numa água limpa, bebível, fresca para um banho que não dispensamos e também conhecida como a água da fonte da fertilidade. Reza a história que quem bebe daquelas águas não terá dificuldade de engravidar... Será?
Fotos da gruta do Nzenzo
Depois de muita confusão e da visita guiada pela gruta voltamos a aldeia e encontramos a "sala" montada para nós. Os mais velhos da aldeia todos reunidos para agradecerem a nossa visita. Aproveitamos para deixar alguns bens que levamos para este fim. Despedimos-nos com vontade de lá ficar, quem sabe um dia...
Voltamos pelo mesmo caminho tortuoso rumo a cidade do Uíge. Demos uma volta pequena pela cidade e depois reunimos-nos na conversa. No dia seguinte os nossos caminhos nos levavam a Ndalatando.
No dia seguinte seguimos pela estrada em direcção a Camabatela, a nossa primeira paragem para conhecermos uma Igreja de estilo gótico, perdida numa vila esquecida. Como pode uma relíquia desta estar fadada para o abandono?
Foto da igreja
Seguimos caminho em direcção a Samba Caju passando por vales lindos. Que vista de cortar a respiração, vontade de parar o carro e simplesmente contemplar... sem sombra de dúvidas o meu país é lindo, pena que mal aproveitado.
No meio do caminho um breve desvio, para uma breve visita as furnas do Zanga. Oh que beleza. No meio do capim alto que tapava os nossos carros, lá entramos nós para conhecermos mais uma maravilha escondida deste território. E compensou sem sombra de dúvidas.
Furnas do Zanga
Seguimos depois por Lucala e finalmente entramos na caótica Ndalatanto. Um grande contraste comparando ao Uíge, por lá o lixo e a desorganização já é uma realidade. Se calhar porque está perto de Luanda... Decidimos ficar, no que restava do nosso dia, a conversa.
No dia seguinte, o dia Internacional da mulher as rodas dos nossos carros levaram-nos até ao Jardim Botânico da cidade, sim leu bem... um Jardim Botânico em Angola e em Ndalatando. Um lugar mágico, lindo, uma paz e quase esquecido. Com inúmeras espécies de plantas e borboletas lindas, entre outros insectos.
Como tínhamos de regressar para Luanda ficamos por explorar as Quedas do Muembeje, quase desconhecidas. Quem já as visitou diz que são de cortar a respiração. Fica na lista das belezas a descobrir.
Regressamos para Luanda pelo morro do Binda, tão conhecido não pelas melhores razões, mas por se encontrar em melhor estado lá nos aventuramos. Como a vegetação estava alta não tivemos tanta noção dos seus "precipícios". Antes de entrarmos em Luanda paramos para almoçar na margem do Kwanza, no Dondo.
Sem dúvidas Angola, o meu país tem muito para oferecer. é possível fazer-se turismo cá dentro mas são muitas as dificuldades, já que o incentivo nesta área é praticamente nulo.
Até a próxima.
Tivemos a oportunidade de neste local verificar a existência da ruína de uma ponte antiga, caída. Recordações de um passado não muito longínquo, de um país que esteve em guerra civil.
Voltando para os carros, lá seguimos desta já para a famosa Lagoa do Feitiço. Um nome bastante sugestivo e com uma estória por trás. Reza a história que no passado uns portugueses a darem com a Lagoa decidiram tomar banho nas suas águas, mesmo tendo sido avisados que deveriam pedir autorização ao Soba para tal, os mesmos desdenharam. E assim mergulharam e até hoje.... ninguém sabe dos mesmos. Assim se passou a palavra que para tomar banho naquelas águas ou se é nativo ou se pede autorização ao Soba.
Por estamos numa região em que a tradição é levada muito a sério e sem querer desrespeitar a tradição, os nossos organizadores foram até a aldeia pedir a autorização ao Soba ("rei" na cultura angolana)para podermos aproximar-nos da água da Lagoa.
Uma lagoa que está perdida no meio do nada, sem qualquer sinalização, bastante usada pela população local. Os nativos atravessam-na de um lado ao outro a nado, pois assim saem de uma aldeia para outra sem terem de percorrer uma grande distância. Impressionante! Nós só tivemos coragem de molhar os pés... Citadinos medricas ahahha.
Seguimos viagem e só paramos quando entramos na cidade do Uíge. O que chamou logo a atenção foi a limpeza da cidade, a organização. Notório a degradação e falta de um investimento real na cidade, todavia sem deixar que isso tirasse a sua beleza. E consegue-se ver que foi uma grande e bela cidade.
Outro aspecto que confesso que me chamou muita atenção é o facto de a população ser muito bem falante. Por exemplo a população de Luanda - não sei se deve-se a mescla de pessoas de várias províncias - tem uma pronúncia muito forte e um falar meio a cantar. Já no Uíge achei que os mesmos têm uma pronúncia bastante clara e limpa.
A simpatia e o querer servir bem, um serviço modesto mas agradável. Foi o que encontramos no nosso Hotel. Tão agradável que o Gerente do Hotel nos ofereceu o mini-bus do Hotel para nos levar a uma cachoeira que existia, segundo ele a alguns minutos perto do Hotel. Ahahah em Angola quando estiver numa província e lhe disserem que é já ali o sitio que quer ir... desconfie, pois não é assim tão perto. Andamos durante 30 minutos por uma estrada em condições aceitáveis, com um verde muito forte tanto de um lado como de outro. Chovia, mas uma chuva miúda que não atrapalhava a visão.
Lá chegamos a "entrada" para as cachoeiras e aí tivemos de seguir a pé, por uma trilha escorregadia. Tivemos de cruzar um pequeno riacho. Tínhamos a opção de atravessar por um tronco ou directamente no rio. Optamos todos por pisar no rio, ninguém arriscou o tronco ahahha, mas fomos gozados por esta opção. E lá chegamos a esta bela cachoeira tão perdida no meio do nada e tão deliciosa.
cachoeira da Quimini
Ficamos lá até que as trovoadas e a noite começaram a tomar conta do dia. E rumamos de volta para o Hotel. Podemos constatar que aqui no Uíge escurece mais cedo que em Luanda.
No dia seguinte tínhamos na agenda ir visitar as Grutas do Nzenzo. Parecia um programa simples para um dia inteiro. Ah santa inocência. Para irmos para as Grutas tivemos de voltar para Quitexe que está a 30 Km da cidade do Uíge. Aí, viramos a direita em sentido ao município de Ambuíla, que está a 60 Km de distância daquele ponto.
Os 60 Km até Ambuíla foram feitos em quase três horas! Sim eu disse três horas, tudo porque o acesso está em péssimo estado. Não tem asfalto e o terreno com as chuvas criou ravinas o que torna a condução complicada e lenta. Entramos em Ambuíla e vimos a destruição ou a ausência de tudo! Mas não paramos por aí, afinal ainda tínhamos de continuar.
Fomos passando por aldeias, super organizadas, super limpas até que chegamos ao nosso destino. Fomos super bem recebidos. Mais uma vez fomos pedir autorização ao Soba para visitar as grutas.
Autorização dada, rumamos a pé até a entrada da gruta, num cortejo em que as crianças, alguns jovens, um senhor idoso que coxeava e o Soba nos guiaram. Haja recepção tão calorosa.
No portão improvisado feito com troncos tivemos a oportunidade de presenciar um ritual fantástico, em que o Soba em Kikongo - língua nacional falada nesta região - pediu autorização aos espíritos para nos deixar entrar em segurança e acima de tudo que nos deixassem sair em segurança. Disse também que éramos todos Angolanos que tínhamos feito uma grande viagem de Luanda para o Uíge com o objectivo de conhecer a província e assim o Soba pediu também a nossa protecção no regresso a casa. Confesso que fiquei arrepiada com o ritual, tão tradicional e tão emotivo.
Lá entramos pelo trilho que nos levou a Gruta do Nzenzo, considerada uma das Sete Maravilhas Naturais de Angola, imponente, linda com a sua pedra torneira sempre a escorrer, numa água limpa, bebível, fresca para um banho que não dispensamos e também conhecida como a água da fonte da fertilidade. Reza a história que quem bebe daquelas águas não terá dificuldade de engravidar... Será?
Fotos da gruta do Nzenzo
Depois de muita confusão e da visita guiada pela gruta voltamos a aldeia e encontramos a "sala" montada para nós. Os mais velhos da aldeia todos reunidos para agradecerem a nossa visita. Aproveitamos para deixar alguns bens que levamos para este fim. Despedimos-nos com vontade de lá ficar, quem sabe um dia...
Voltamos pelo mesmo caminho tortuoso rumo a cidade do Uíge. Demos uma volta pequena pela cidade e depois reunimos-nos na conversa. No dia seguinte os nossos caminhos nos levavam a Ndalatando.
No dia seguinte seguimos pela estrada em direcção a Camabatela, a nossa primeira paragem para conhecermos uma Igreja de estilo gótico, perdida numa vila esquecida. Como pode uma relíquia desta estar fadada para o abandono?
Foto da igreja
Seguimos caminho em direcção a Samba Caju passando por vales lindos. Que vista de cortar a respiração, vontade de parar o carro e simplesmente contemplar... sem sombra de dúvidas o meu país é lindo, pena que mal aproveitado.
No meio do caminho um breve desvio, para uma breve visita as furnas do Zanga. Oh que beleza. No meio do capim alto que tapava os nossos carros, lá entramos nós para conhecermos mais uma maravilha escondida deste território. E compensou sem sombra de dúvidas.
Furnas do Zanga
Seguimos depois por Lucala e finalmente entramos na caótica Ndalatanto. Um grande contraste comparando ao Uíge, por lá o lixo e a desorganização já é uma realidade. Se calhar porque está perto de Luanda... Decidimos ficar, no que restava do nosso dia, a conversa.
No dia seguinte, o dia Internacional da mulher as rodas dos nossos carros levaram-nos até ao Jardim Botânico da cidade, sim leu bem... um Jardim Botânico em Angola e em Ndalatando. Um lugar mágico, lindo, uma paz e quase esquecido. Com inúmeras espécies de plantas e borboletas lindas, entre outros insectos.
Como tínhamos de regressar para Luanda ficamos por explorar as Quedas do Muembeje, quase desconhecidas. Quem já as visitou diz que são de cortar a respiração. Fica na lista das belezas a descobrir.
Regressamos para Luanda pelo morro do Binda, tão conhecido não pelas melhores razões, mas por se encontrar em melhor estado lá nos aventuramos. Como a vegetação estava alta não tivemos tanta noção dos seus "precipícios". Antes de entrarmos em Luanda paramos para almoçar na margem do Kwanza, no Dondo.
Sem dúvidas Angola, o meu país tem muito para oferecer. é possível fazer-se turismo cá dentro mas são muitas as dificuldades, já que o incentivo nesta área é praticamente nulo.
Até a próxima.
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